O Peso Invisível: Por que "fingir ser normal", o Masking, anda drenando sua energia
- Fernanda Azevedo
- há 3 dias
- 3 min de leitura
Você já teve a sensação de chegar ao final do dia sentindo que correu uma maratona, mesmo tendo passado o dia todo sentada no escritório? Ou sente uma "ressaca social" profunda após interações simples, precisando de horas (ou dias) de isolamento para se recuperar?
Se você é uma mulher neurodivergente (com TDAH, Autismo ou Altas Habilidades), essa exaustão tem nome e sobrenome: Masking e Fadiga Cognitiva.
Muitas mulheres passam a vida inteira ouvindo que são "dramáticas", "sensíveis demais" ou "preguiçosas", quando, na verdade, seus cérebros estão trabalhando em dobro apenas para existir em um mundo que não foi desenhado para elas.

O que é o Masking?
O Masking (ou camuflagem social) é o conjunto de estratégias conscientes ou inconscientes que pessoas neurodivergentes usam para esconder suas características e se passarem por "típicas".
Isso inclui coisas como:
Forçar contato visual (mesmo que seja doloroso);
Monitorar constantemente a postura e os gestos para não parecer "estranha";
Reprimir movimentos repetitivos de autorregulação (stims);
Ensaiar mentalmente conversas antes de elas acontecerem (scripting);
Rir de piadas que não entendeu ou tolerar barulhos e luzes que machucam.
A Neurociência da Exaustão: Por que cansa tanto?
Para uma pessoa neurotípica, muitas interações sociais e filtros sensoriais acontecem no "piloto automático". O cérebro faz isso sem gastar muita energia consciente.
Para a neurodivergente em masking, o processo é diferente. Neurocientificamente, você está operando em "modo manual" o tempo todo.
Sobrecarga do Córtex Pré-Frontal: O masking exige um uso intenso das funções executivas. Você está o tempo todo analisando, processando e decidindo como agir. É como se o seu computador estivesse com 50 abas pesadas abertas ao mesmo tempo.
Custo Metabólico: O cérebro consome cerca de 20% da energia do corpo. Durante o masking, esse consumo dispara. O esforço para "parecer normal" queima suas reservas de glicose e energia mental rapidamente.
Estado de Alerta Constante: O medo de "ser descoberta" ou de cometer uma gafe social mantém sua amígdala ativada, liberando cortisol (hormônio do estresse) continuamente. Seu corpo entende que você está em perigo, mesmo em um jantar com amigos ou em uma reunião de trabalho corriqueira.
O resultado dessa conta não fecha: Burnout. E, muitas vezes, diagnóstico errados de depressão ou ansiedade generalizada, quando a raiz é o esforço de adaptação.

A Visão Junguiana: A Persona vs. Quem Você É
Na Terapia Junguiana, falamos muito sobre a Persona. A Persona é a máscara social que todos usamos para interagir com o mundo. Ela é necessária e saudável em doses certas.
O problema do masking neurodivergente é quando essa Persona se torna uma prisão. De tanto fingir ser outra pessoa para ser aceita, você perde a conexão com o seu Self (sua essência real).
Você acaba vivendo uma vida performática, onde ninguém conhece a verdadeira você. Isso gera uma solidão profunda, mesmo quando se está rodeada de pessoas. O sofrimento não vem apenas do cansaço físico, mas da desconexão com a própria alma.
Como a Terapia pode ajudar a tirar a máscara com segurança?
Tirar a máscara não significa "chutar o balde" do dia para a noite. Significa construir segurança interna para ser autêntica. No processo terapêutico, trabalhamos três pilares:
Autoconhecimento Neurobiológico: Entender como seu cérebro funciona tira a culpa. Você não é "errada", você é diferente.
Reconexão com o Corpo: Usando técnicas de respiração e consciência corporal (trazidas do Yoga e da neurociência), ensinamos seu sistema nervoso a sair do estado de alerta, permitindo um descanso real.
Integração da Sombra e Individuação: Criamos um espaço seguro onde você pode baixar a guarda, validar suas necessidades "estranhas" e descobrir quem você é quando não está tentando agradar ninguém.

Se você sente que está vivendo no limite da exaustão por tentar se encaixar, saiba que existe um caminho de volta para si mesma. A terapia é o lugar onde a máscara pode cair, para que a sua verdadeira vida comece.
Fernanda Azevedo
Psicoterapeuta Junguiana | Neurociência e Yoga



Comentários